quarta-feira, 1 de abril de 2009

AS MINHAS HISTÓRIAS ( II )


O PIANISTA E O CÃO


" O Pianista " é um filme do realizador polaco Roman Polanski que apareceu nos cinemas de Lisboa há muito tempo. Como não sou grande cinéfilo não procurei vê-lo na altura,embora várias pessoas me tivessem dito tratar-se de um excelente filme.
Surgiu-me há dias a possibilidade de o adquirir na versão DVD e foi com enorme expectativa que o vi.Trata-se de um filme arrebatador que relata a terrível perseguição que sofreram os judeus polacos durante a Segunda Guerra Mundial na capital do país,Varsóvia,e em particular o pianista Wladyslaw Szpilman, que viveu na Polónia e que por ser judeu sofreu os horrores das perseguições nazis. Na cidade os judeus eram acantonados em zonas chamadas guetos a fim de serem controlados mais facilmente - embora usassem a estrela de David nas suas roupas - e deportados para os campos de concentração, dentro de vagões a abarrotar de pessoas,onde eram mortos nas câmaras de gás quando não morriam de fome, frio ou doenças.A perseguição aos judeus ao longo da História não foi só levada a cabo pelos nazis; em Lisboa, por exemplo, teve lugar uma grande matança no dia dezanove de Abril de mil quinhentos e seis, em que,segundo relatos da época terão sido mortos - muitos queimados vivos - para cima de três mil judeus.
Szpilman consegue fugir do gueto onde se encontrava, após ter assistido à deportação de toda a sua família para o campo de concentração de Treblinka,iniciando então a luta pela sobrevivência em fuga permanente pela cidade,sem nada para comer,por vezes adoecendo e sofrendo as agruras do frio intenso. Consegue não ser descoberto escondendo-se também com a ajuda de amigos que lhe dão guarida breve em suas casas,embora correndo o risco de serem fuziladas por abrigarem um judeu, ou em apartamentos vagos, em prédios à partida insuspeitos de albergarem judeus foragidos. Szpilman entra nos prédios a medo, subindo as escadas pé-ante-pé evitando fazer qualquer ruído que o possa levar a ser descoberto por outros moradores e denunciado aos alemães,sempre com a esperança de que um exército aliado, o russo, entre na capital e liberte os habitantes da ocupação nazi, o que vem a acontecer.

Dido não toca piano. Dido é um cão rafeiro que há anos foi abandonado em Carnaxide,nos arredores de Lisboa. Começou a aparecer numa praceta e cedo algumas pessoas se condoeram da sua sorte, dando-lhe um nome e distribuindo tarefas entre si para sua protecção. Há quem zele pela vacinação anual, pela desparasitação regular, pelo tratamento anti-pulgas periódico,por tudo o que se afigure necessário à sua protecção e bem-estar. Vivendo na rua tem passado anos ao frio e à chuva,abrigando-se durante a noite por todo o lado e até em casotas de cartão enquanto duram.
Dido não é um cão judeu mas também tem alguns inimigos,pessoas que o invejam. Já tentaram deportá-lo não para um campo de concentração mas para o canil municipal a fim de ser abatido. Até hoje em vão. Já recebeu ameaças de morte através de uso de arma branca. Já passou por momento delicado de saúde resolvido com operação quotizada por muitos.
À semelhança de Szpilman, o pianista judeu, Dido dorme agora clandestinamente num
apartamento,para o qual se dirige, ao cair da noite, pata- ante-pata,sem fazer ruído,ao subir as escadas, não vá ser deacoberto por algum morador do condomínio que o denuncie. De manhã cedo volta sorrateiramente para o seu território,a praceta, onde dá largas à sua alegria de viver.


Luis Florêncio Oliveira

- Esta história foi publicada na revista "Pessoas" que se publicava em Genève,Suiça, acompanhada de uma bonita foto do Dido e foi tema de um teste de português de alunos da Escola Secundária Marquês de Pombal, em Lisboa.

-Actualmente Dido vive com donos maravilhosos num grande apartamento perto da praceta onde sempre viveu e visita frequentemente os seus amigos de sempre.

1 comentário:

  1. O grande Dido é de facto um sobrevivente como poucos, um cão de uma inteligência e de um “feeling” raro, um “guerelheiro” da selva urbana, tentanto manter a sua
    Personalidade vincada e nunca se deixando pisar ou amordaçar por aqueles que lhe querem fazer mal – E ele sabe tão bem os que mal o querem -

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